segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Educação & Cultura: Escola Pública Republicana?

Como anda a educação no Brasil!?
Se pararmos para analisar, está em uma fase curiosa, pois a economia do país dentre as diversas no cenário mundial, pode ser dita como uma das mais estáveis, resistindo à crise mundial e buscando alternativas de equilíbrio socioeconômico, baixo índice de desemprego, ativando investimentos no mercado externo e interno, o pré-sal promovendo investimentos e polêmicas saudáveis quanto ao fluxo das riquezas e provocando retorno de futuros investimentos e moralização do uso de royaltes sobre os recursos naturais voltados aos interesses sociais e ambientais...

Nunca vivemos tantas possibilidades de estarmos mais perto de um caminho possível quanto a termos uma justiça social, não apenas nas vésperas de uma Copa do Mundo ser sediada em solo brasileiro em 2014, mas de realmente estarmos ativamente cobrando por ações efetivas e duradouras na infraestrutura do país, na saúde e na educação, na moradia e empregabilidade, que são a base do harmonia e saúde social e ambiental.

Mas, sabemos que não basta progredir, sem promover o desenvolvimento, autonomia, protagonismo e dignidade das pessoas, dar exemplos de ética em cada ação social, isso sim será para sempre! Precisamos dar oportunidade para as pessoas crescerem, serem ouvidas, participarem das decisões, das derrotas, das conquistas, dos lucros e dos compromissos de cada um e do coletivo...

Assim, tudo gira em torno da "Cultura"!
Um país, um povo, uma cidade, um bairro, uma empresa ou uma família só se desenvolvem e se tornam eternizados e respeitados, quando souberam dar manutenção para sua cultura e fazer dela o lema saudável de suas vidas, sonhos e objetivos. Não há missão que se atinja, sem termos uma cultura bem definida e coerente, clara e que dá força para o todo, pois cada um entende e faz parte da construção desta cultura.

Até uma simples "cultura" de micro-organismos, só é dita cultura, por garantir que todos os seus seres, nela contidos se multiplicarão dentro de seus limites e condições pré-estabelecidos... A cultura nos precede, nascemos dentro de uma cultura, de uma sociedade pré-estabelecida, onde o mais rico são os laços sociais que podemos ter e participar ao sermos inseridos nela.

Segundo alguns pensadores e filósofos contemporâneos como Zygmunt Bauman, as suas sábias palavras em entrevista no programa "Café Filosófico", onde reforça que os laços sociais, são mais importantes que as atuais redes sociais, onde conectar-se ou desconectar-se é algo muito rápido e fácil, mas nada duradouro ou profundo, permite uma liberdade de contatos na rede, mas tudo na superficialidade cada vez mais comum da vida contemporânea, mas não há um compromisso...Isso é um alerta para onde queremos ir em nossa atual transição de culturas!

O Capitalismo está se transmutando, há um mal-estar da pós-modernidade, não sabemos no que vai dar e nem onde iremos parar, mas já podemos vislumbrar que finalmente as grandes potências, antes econômicas e culturais, exemplos de organização social e consumo acessível, agora apenas conhecidas das crises e das guerras, dos escândalos e consumismos, não aprenderam a lição, em seu imperialismo e imposição cultural e de consumo, agora agonizam sua própria receita de desfrutar dos seus excessos e chegarem ao fundo do poço, pois tudo tem um preço e tudo se esgota, quando não se cultiva o equilíbrio e a boa regra de que não estamos sozinhos neste planeta e que não adianta fingirmos que cegos às desigualdades socioeconômicas e ambientais de nossos vizinhos, nada ocorrerá contra os donos do poder!

Bauman, sugere que não devemos mais imitar nossos antepassados e suas culturas, devemos sim aprender com eles que, o mais importante é percebermos nosso contexto, nossos atuais valores e destinos, precisaremos ser criativos e inventar novos modelos de sociedade, de governo, de justiça, economia e ecologia humana, para sobrevivermos e inovarmos!
"Cada vez que ganharmos mais liberdade, entregaremos um pouco mais de nossa segurança...cada vez que ganharmos mais segurança, entregaremos um pouco mais de nossa liberdade..." Essa reflexão de Zygmunt Bauman é atualíssima, se pensarmos em termos das ações no Rio e em São Paulo, quanto a cultura das drogas legais e ilegais, combate ao tráfico, pacificação da Rocinha, Morro do Alemão...As constantes ações do exército norte americano no Oriente Médio...
Agora voltamos a clamar por mais liberdade e já perdemos quase toda nossa segurança!

Qual é a Cultura que queremos? Qual Educação estamos dando aos nossos filhos e jovens? De onde falamos?

Tão importante quanto ter conhecimento é saber o que fazer com ele!
Educar é transformar e encantar as pessoas, apresentando-lhes, provocando-lhes e trocando conhecimentos e sabendo ouvir cada um, cada cultura, suas diferenças são o que as tornam valiosas e curiosas aos que não fazem parte dela e aos que dela compartilham. Saber o que motiva uma pessoa a querer saber mais e melhor sobre algo é educar, é promover a troca cultural, não só a fruição individual, mas sermos sujeitos de nossa cultura!

Fernando José de Almeida, também filósofo de formação que nos reforça também a reflexão sobre um texto de Álvaro Vieira Pinto, de 1969, "Teoria da Cultura", de conteúdo marxista, mas ótimo para provocar-nos quanto a o que precisamos analisar e rever no que se refere a Cultura, como sendo um bem, um produto do qual fazemos parte, mas muitas vezes é diluída como algo material apenas, algo que se quer ter e ser consumida, mas pouco se fala em uma cultura que podemos ser o sujeito co-partícipe de sua criação e manutenção constante, evoluirmos em sua contemporaneidade, trazermos o que ela pode ter e dar de melhor, mas de forma mais justa, acessível, para todos e vinda dos anseios da coletividade!
Cultura é ética e estética. A cultura tem na estética a ética, por essência, pois o ético é belo, compartilhar e fazer o bem, fazer bem feito e para todos é correto! Fazer o bem é bonito! Esta é uma das mais claras regras da ética social milenar. Isso é cultural! Ética não é moral, ética tem o papel de questionar a moral. O que é certo? A educação é diálogo, é mediação, reflexão e questionamento constante da vida, é uma particularidade da ética!

As instituições visionárias, deste final da primeira década do século XXI, precisarão talvez serem mais parceiras das escolas, construírem laços sociais mais sólidos, mapearem melhor seu entorno, darem força aos movimentos culturais regionais, como forma de fortalecerem as redes socioculturais e revitalizarem os sujeitos atores sociais destas culturas locais, para criarmos um verdadeiro e ecossistema social e cultural onde, Escola - Família - Sociedade troquem definitivamente conhecimentos, habilidades, atitudes e juntos se desenvolvam!

Estamos iniciando no país uma nova escola, a "Escola Republicana Brasileira", uma tentativa de recuperar a cultura brasileira inovando com uma escola mais inclusiva e compartilhada com as instituições da sociedade, pois a "Escola democrática" não deu certo, fracassou em seu modelo e gestão, não incentivou o desenvolvimento das pessoas e sim o tecnicismo voltado ao mercado imediatista, não se formam técnicos, médicos, engenheiros, advogados, administradores, etc, sem a base de outras áreas do conhecimento, nem sempre rentáveis, como o próprio professor do ensino básico e fundamental...! Abandonou-se os educadores de áreas de pesquisa de base, como a química, física, biologia, sociologia, história, português...as escolas privadas imperaram, os papéis foram trocados de governo e sociedade, domina a classe burguesa...as escolas serviram a poucos, não foram inclusivas, vendem saberes e tecnologias, prometem acesso ao ensino superior facilitado, mas não contribuem para um mercado de trabalho mais justo, virou um comércio de cursos rápidos e ilusórios, diplomas express, carreiras imediatistas e superficiais...Fizeram comércio da educação, assim como o fizeram com a cultura!

A cultura de massa, mercantilista e utilitarista, a cultura capitalista do consumismo, a cultura empresarial e governamental da exploração, da corrupção, da rápida ascenção sem critérios claros, da competição desigual e desonesta, da quantidade a qualidade, dos privilégios e nepotismos...levaram-nos ao abismo social e cultural!

É perceptível o quanto cresceu o número de "Coletivos-Educadores", coletivos de músicos, de artistas plásticos e visuais, de escritores e poetas, críticas severas aos órgãos e sindicatos classistas, impostos e sanguessugas do trabalho formal e informal cultural...sinal de que as hegemonias não representam o todo e que os "Mecenas" talvez tenham abandonado a noção de cultura popular! Estes coletivos subvertem as regras do capitalismo, legítimos, não são cooperativas, não há um dono ou sócio, não há taxas ou contratos, todos compartilham conhecimento e oportunidades de criação e resistência aos modelos de poder social atuais, promovem reflexões socioculturais regionais e mundiais, querem ser anônimos ou simplesmente...coletivos. Isso é uma mudança cultural!

Não faz tanto tempo, passamos a conviver com a ideia de copyleft ao invés de copyrigth, abaixo aos direitos autorais indiscriminados e royaltes, que ficam mais nas mãos de indústrias do que de seus próprios autores...!? Até micro-organismos são patenteados por mega indústrias que se consideram donas da criação, só por terem desenvolvidos varietais sem licença da natureza!!!!
Um basta às pressões de uma cultura cada dia mais egoísta e nada compartilhada!

O Brasil tem uma característica multiculturalista, isso nos coloca em vantagem no atual contexto sociocultural mundial, pois lidamos desde nossa origem com a diversidade de culturas, influências, interesses, pluripartidarismos, biodiversidades, preconceitos, pobreza, sofremos genocídios indigenistas e escravagistas, séculos de exploração imperialista europeia e norte-americana, nos abrimos aos imigrantes, às multinacionais, buscamos a democracia e a república, somos povo que começa a entender que vale a pena ser nação...estamos talvez com a oportunidade nas mãos de acordarmos e reconhecermos nossa cultura plural, nosso ambiente singular e criarmos nossa educação para a sustentabilidade de um novo país!

Não devemos almejar modelos antigos, ultrapassados e rançosos de mero poder e glórias imperialistas, temos o compromisso de construirmos um Brasil que poderá ser exemplo de futuro aos demais países que também enfraquecidos até hoje, justamente pelo potencial de vida, ciência popular e cultura que pulsam, como o continente da África que esbanja uma cultura ainda calada e tão oprimida...

A ciência portanto, é uma particularidade da cultura e a educação é uma particularidade da ciência, onde ambas são o que alimenta a constante evolução da cultura entre os povos e nações que as contêm!

A cultura é um produto do processo criativo humano, é dinâmica e existencial, assim está em constante evolução histórica e a cronologia cultural é imemoriável, material e imaterial. A cultura é mutante, como diz Bauman, a vida é líquida, o tempo é líquido, perpassa por tudo, evapora, recicla-se constantemente, faz parte de todos nós...

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