domingo, 20 de dezembro de 2009

Calçadas - Passeio Urbano

Vamos iniciar uma nova série de artigos em ecologia urbana, que chamarei de MURB!

MURB: Mobiliário Urbano - conjunto de itens que compõem os equipamentos do ecossistema urbano, que estão disponíveis nas vias que transitamos...
(foto celular: por Octávio Weber - calçada da Rua Voluntários da Pátria - Zona Norte de SP, já com o piso de bloco absorvente de cimento expandido e canteiros refeitos - junho/2008)

Assim começaremos pelas calçadas! Antigos "Passeios", que antes eram largos, preferenciais nas cidades do passado, como os calçadões do Centro de São Paulo, projetados para serem a via exclusiva dos pedestres, planas, seguras, acessíveis e protegidas das vias de rolamento (as ruas, avenidas e estradas). Eram comuns ajardinamentos dividindo meia calçada, colorindo com flores, árvores e sobreando o caminho no verão, ajudavam a absorver as águas das chuvas! Os canteiros eram o cantinho predileto dos cães para suas necessidades...

Os tempos passaram, as escolhas da urbanidade e modernidade, fizeram as calçadas se estreitarem, perderem seus canteiros na maioria das vias, encheram-se de lixeiras, postes de placas, pontos e ônibus bem largos, bancas de jornal, camelôs, moradores de rua, até mesmo e tristemente indígenas começam a habitar as calçadas da cidade, apontando como sintomas do descaso social e da preferência da sociedade ainda pelo mundo dos automóveis...

Desde Prestes Maia, os projetos urbanísticos de Sampa foram priorizando os automóveis, inclusive sediamos o autódromo de Interlagos reafirmando este sonho nacional, isso se agravou nos anos 80 e 90, culminando nos idos de 2000, quando projetos como a alça da Av. 23 e maio com a rua Sena Madureira extinguiram 100% de suas calçadas, não há mais como um pedestre transitar em determinadas regiões da Capital, cadê a mobilidade urbana? Isso quando há passarelas e faixas de travessia bem localizadas... e se bem projetadas, pois boa parte delas faz o pedestre andar muito, não há conexão ou continuidade de fluxo a pé e isso leva ao risco de travessias sem segurança e acidentes, os atropelamentos aumentaram nestas vias e maior movimento de carros e ônibus.

Recentemente iniciou-se um olhar mais atento e inclusivo, que está redesenhando as vias da cidade com mais acessibilidade às Pessoas com Deficiência (PcD), assim há leis que ampliam o direito de circulação de cadeirantes, cegos e outras dificuldades de locomoção. Calçadas mais planas, identificadores de piso para cegos, rampas e calçadas no nível das ruas são umas das acessibilidades já disponíveis e possíveis de serem implantadas em qualquer cidade. Isso também facilita a vida de quem tem uso de cães guias, como cegos, aos transitarem nas calçadas da cidade até os pontos de ônibus e estações de trem e metrô.

A mobilidade urbana dos pedestres é tema nunca antes colocado em fóruns nacionais e internacionais, já existem até ONGs que atuam em prol dos pedestres de tanto que perdemos o direito de ir e vir a pé!

Ainda assim, repare que são poucas as calçadas decentes na cidade e poucas são bem conservadas...

Recentemente a Prefeitura de S. Paulo, desde 2008, vem substituindo as calçadas por pisos com blocos porosos e absorventes de cimento expandido, devolvendo também canteiros e planificando-as, já que são públicas e de total responsabilidade da prefeitura, porém de manutenção responsabilizada ao proprietário do imóvel que a contém, segundo as leis orgânicas da cidade.

Apesar da boa iniciativa, ainda não estão sendo refeitas de forma correta, pois se devem ser absorventes não deveriam ter como contra-piso, o concreto, deveriam ser só de brita e areia! Mas sendo otimista, já reduziram-se um pouco os problemas de acessibilidade, manutenção e alagamentos em diversas vias, não o suficiente, mas já foi um avanço. Junto com os piscinões e recuperação de córregos e rios do município, poderá ser uma memorável contribuição aos ciclos hidrológicos nas cidades. As chuvas de dezembro a março são previsíveis, resta aos governates e a nós cidadãos, fazermos nossa parte, não jogando lixo das ruas e bueiros, plantando e mantendo o verde da sua região, respeitando e conservando as calçadas e reduzindo drasticamente o uso de carro, para termos uma São Paulo mais limpa e saudável para todos!

A tendência será termos, no futuro, a fiação dos postes das ruas e avenidas toda subterrânea, o que facilitará a manutenção, reduzirão problemas de corte de luz por queda de árvores e teremos mais espaço para andar sem tantos postes. Porém, claro, não poderemos ter enchentes ou galerias pluviais inundadas, pois a fiação subterrânea pode não suportar a ação das águas...

A lei "cidade limpa", que aboliu em 2008 os outdoors e pontos de mídias de rua, também contribuiu para a redução de faixas e placas nas calçadas, melhorou 100% da visibilidade das vias e das fachadas das edificações. Isso foi outro avanço de política de governo que virou política pública. Isso é que temos que atuar mais, solicitar, cobrar e elogiar ações que tragam a melhoria da qualidade de vida nas cidades, que já não suportam mais tanta gente e tanta depredação, poluição e degradação urbana.

A Calçada do Lorena, o calçadão da São Bento, a calçada da Av. Paulista...tem muita história e tradição deste mobiliário urbano por todo o mundo!

Até breve! Logo logo um pouco mais sobre calçadas...

4 comentários:

  1. Já postaram isso no www.cidadedemocratica.org.br? É um espaço que teria o maior prazer em receber esta proposta e ajudar a formar uma comunidade de colaboração em torno do tema.

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  2. Rodrigo, Puxa obrigado da dica, vou postar sim!
    Obrigado por visitar o blog, vamos ampliando a rede! Abs. Octávio

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  3. A Comissão Permananente de Acessibilidade (CPA) departamento do SMPED (Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência de SP), é um órgão público atuante nesta questão e algumas cidades no Estado de SP possuem um CPA para fiscalizar e estimular cidades mais acessíveis fisicamente. A acessibilidade atitudinal é o que deve vir primeiro como passo para estas mudanças e melhoria da caminhabilidade nas cidades. Viva a ecologia urbana!

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  4. Não deixe de ver esta discussão também em: www.cidadedemocratica.org.br

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