domingo, 27 de maio de 2012

Saber Popular: Educação e Memória Sociocultural

O Saber popular é de uma riqueza incalculável, é um bem difuso e patrimônio sociocultural que se não registrado perde-se com os tempos e deixamos muitas vezes de valorizar ou principalmente de exercitar o saber ouvir e refletir sobre estes ensinamentos que na minha visão são saudavelmente acientíficos, pois são complexos, partem de observações feitas ao longo de gerações e gerações, um olhar raro e minucioso à algo do cotidiano, um insite de um fenômeno natural ou social, que foi sintetizado em uma frase, que se torna um conto, uma lenda, um ditado popular, ou remédio, um hábito ou cautela que se perpetua para sempre na memória de um grupo social, justamente por ser coerente, fazer sentido para as pessoas e comunidades que convivem e alimentam vivos estes saberes e assim preservam a história, costumes, tradições e valores de uma região!

Digo conhecimento não-científico, o popular, partindo da reflexão que fiz ao ler Edgar Morin em sua introdução ao pensamento complexo, onde ressalta que o complexo, não pode ser fragmentado ou desconectado do todo, como a escola tradicional sempre o fez, não pode ser reduzido e simplificado de forma científica, a qual despreza o saber popular muitas vezes por ser empírico e não acadêmico, acham até que nunca foi testado aquele saber...esquecem que os laboratórios da vida cotidiana, são mais eficientes e complexos que os ambientes controlados, induzidos e isolados dos meios científicos de modo geral...

Assim, acredito que a ciência contemporânea precisa mesmo dar um salto de qualidade e dignidade socioambiental e cultural, aceitando cada vez mais a possibilidade de saber ouvir e respeitar os saberes genuinamente populares, principalmente dos indígenas, aborígenes, ínuites, quilombolas, colonos dos interiores do Norte e Nordeste, caiçaras e pescadores dos litorais, dos velhos, dos catadores das metrópoles, dos trabalhadores rurais e extrativistas e a espontânea e pura observação das crianças de todo o mundo, retribuindo-lhes com a isenção de patentes de conhecimentos científicos e de seres vivos usurpados pelos mecanismos mercadológicos, ajudando e atendendo aos interesses da sociedade, não apenas vistos como meros consumidores consumistas, devolvendo-lhes soluções eficazes, com qualidade, durabilidade, garantindo-lhes saúde integral, respeito e sustentabilidade em tudo que se propuserem a produzir e então estaremos sintetizando tudo o que os sistemas complexos da natureza de nosso planeta sempre nos ensinaram e nos prestam gratuitamente até hoje...com os serviços ambientais complexos e insubstituíveis, como a manutenção de água doce potável, fertilidade de solos, ciclos biogeoquímicos naturais, decomposição espontânea, matérias-primas finitas, energia solar e vital, alimentos sazonais, sais minerais, remédios naturais, clima auto regulador, vegetação e ciclagem natural de resíduos...enfim, tudo que conhecemos e nos beneficiamos no presente, é resultado do conhecimento e observação da natureza, do saber popular que se tornou ciência...

O mundo está se tornando mais complexo na medida em que estamos cada vez mais buscando sintetizar as coisas, achando que simplificaríamos nossas vidas...A síntese, é o complexo! O complexo é o todo e isso na cabeça dos mais "simples", nunca esteve fragmentado, pois sempre foi incerto, ideias desorganizadas, orgânicas, livres e flexíveis...sempre foram o todo, ainda o não científico,...por isso incompreensíveis num primeiro olhar desatento...!

Cabe aqui um comentário para abrir para quem queira continuar o debate...Não estaria aqui o essencial motivo para as escolas mudarem radicalmente sua forma de serem? Serem mais livres da ciência oficial, permitirem o pensar, o saber complexo e transdisciplinar da sociedade civil, produzir novos conhecimentos sem depender do Capitalismo do Conhecimento?

Não estaria aqui um novo olhar da Educação, como centro da manutenção dos saberes populares diante da complexidade do cotidiano e a busca por soluções não fragmentadas e ao alcance de todos?

Parabéns aos que atuam no mapeamento de seu entorno, que valorizam o saber popular local, que incentivam a cogestão popular, que usam os dados complexos de sua região para conhecer as pessoas locais e ampliar a coparticipação popular, para assim se apropriarem das memórias e saberes locais, elaborarem sua agenda local de compromissos inadiáveis com relação às questões socioambientais e a vocação responsável da região e não mais esperarem por uma Rio + 20 que promete ser mais um fiasco e desapontamento, a começar pelo talvez futuro Código Florestal Brasileiro, pelas morosidades e descasos com as gerações futuras e a cegueira que toma conta dos governos, congressos, políticos e muitas ONGs que vivem dos problemas e não das soluções, comemoram a ampliação de seus associados, beneficiados e carentes atendidos e não da redução do número dos que deles dependem...!!!

Esta ainda será a nova Educação Socioambiental para esta segunda década do século XXI !

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